João Nery participa da Semana da Diversidade Sexual em Jundiaí

João Nery participa da Semana da Diversidade Sexual em Jundiaí
26/09/2016 Sumara Mesquita

João Nery participa da Semana da Diversidade Sexual em Jundiaí

Primeira pessoa a ter realizado a cirurgia de readequação de sexo no Brasil, João Nery terá sua história contada em um filme

Embora reconheça que a população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) tenha alcançado um espaço maior na sociedade e também na mídia ao longo das últimas três décadas, o Brasil vive um momento preocupante no que se refere aos direitos humanos como um todo, especialmente em relação ao respeito às liberdades individuais, defendeu o psicólogo e escritor João Nery em visita a Jundiaí para participar da 3ª Semana da Diversidade Sexual. “Temos um Congresso muito conservador e isso tem tornado praticamente impossível aprovar qualquer lei em defesa dos direitos humanos. Além disso, nossa sociedade ainda é muito machista, sexista e misógina”, disse Nery ao lançar na cidade o seu livro “Uma Viagem Solitária”, cujo texto servirá de inspiração para um filme.

O psicólogo foi a primeira pessoa a realizar a cirurgia de readequação de sexo no Brasil ainda na década de 70, durante a ditadura militar – quando o procedimento era considerado crime – e atualmente é um ícone da luta pelos direitos dos transgêneros. “Depois de todos esses anos, apenas cinco capitais brasileiras realizam a cirurgia pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e somente um procedimento é feito por mês. A fila é tão grande que no Rio de Janeiro, por exemplo, novas inscrições estão suspensas. É seguro afirmar que praticamente não houve avanços nas políticas públicas em defesa dos transgêneros no Brasil”, destaca.

A principal luta dos transgêneros no momento, segundo Nery, é pela aprovação do Projeto de Lei 5002/13, que leva o seu nome e atualmente está em análise nas comissões da Câmara dos Deputados. O PL dispõe sobre a identidade de gênero e, se aprovado, vai permitir uma autoidentificação da identidade de gênero, eliminando a necessidade de uma cirurgia para que a pessoa possa ter a sua verdadeira identidade reconhecida. “Hoje em dia, para obter essa identidade é preciso entrar na Justiça, que requer laudos médicos atestando que a pessoa é transgênero. A lei quer acabar com essa patologização (transformação de uma característica humana em doença)”, explicou, para completar que a aprovação do projeto seria a grande liberdade para os transgêneros. “É o aval da cidadania”.

Nas conversas que participou na cidade dentro da programação da 3ª Semana da Diversidade Sexual,Nery falou ainda sobre a violência contra os transgêneros no Brasil, que tem índices alarmantes. “A maioria dos crimes que são classificados como homofóbicos no Brasil são de natureza transfóbica. A maior parte das vítimas são travestis e transexuais”, destaca.

Dados do Grupo Gay da Bahia revelam que 1,6 mil pessoas foram assassinadas no Brasil por motivações homofóbicas nos últimos quatro anos e meio. “Esse número certamente é maior uma vez que o GGB faz o levantamento com base em notícias publicadas nos jornais e muitos casos não chegam à imprensa porque sequer são registrados como homofóbicos nas delegacias do País”, afirma.

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