Na tentativa de se proteger e fugir, cães podem apresentar lesões graves ao colidir com portas de vidros, muros e paredes.
Para nós, humanos, a cena e som ao redor são emocionantes. Fogos de artifícios, o céu colorido e iluminado, muito barulho, muitas bombas, afinal, é dia de celebrar, seja na vitória do nosso time, nas festas juninas, na noite de Natal ou na chegada do Ano Novo. Festa para nós e momento de sofrimento e pânico para os animais. Na verdade, uma grande tortura para os bichos que tem o sistema auditivo bem mais sensível que o nosso.
A médica veterinária Maria Virgínia Saito, do Hospital Clinicão & Gato, em Jundiaí, diz que de todas as festas, a mais impactante para os pets é o Reveillon, haja vista todos os fogos e bombas serem utilizados ao mesmo tempo. “Do total de atendimentos na noite de Reveillon, cerca de 70% é decorrente de alguma situação envolvendo os fogos”, conta.
Segundo Virgínia, os que mais sofrem com os fogos são os cães. Por sentirem-se aterrorizados com tanto barulho, eles tentam fugir e acabam colidindo com portas de vidro, muros e paredes. O desespero também os faz pular de telhados e ter quedas graves em escadas. A médica conta que também já atendeu uma cadela da raça Cocker Spaniel que mordeu uma bomba solta por seu dono num fim de ano. “Ela teve uma fratura muito grave na mandíbula e passou por cirurgia”.
Entre os casos mais graves estão cortes profundos, quando o cão, por instinto, tenta fugir ou buscar proteção e acaba se chocando contra objetos cortantes ou contra as portas de vidro, ou ainda, escapar da casa e ser atropelado. Em situações mais raras, o animal pode chegar a ter um quadro convulsivo. No caso dos gatos, Virgínia explica que os felinos ficam mais acuados e tentam se proteger procurando algum esconderijo. Mas o pânico e o sofrimento são os mesmos.
Além do pavor, os pets estão mais vulneráveis porque, na maioria dos casos, os donos estão fora de casa. “O ideal é pensar num local que seja totalmente seguro para eles, ou seja, sem objetos cortantes e perfurantes, sem escadas e sem portas de vidro por perto”, sugere a médica.
A celebração é inevitável, mas o sofrimento não. Virgínia sugere algumas ações que podem amenizar todo esse desespero. O principal é achar um local seguro. Outra dica é deixa-los num ambiente com música em volume alto para tentar neutralizar o som externo. Fazer um tampão com algodão e colocar no ouvido deles também pode ajudar.
Muitos clientes ligam durante o Reveillon pedindo socorro ao verem seus animais em pânico. “Em alguns casos, recomendamos o uso de calmantes naturais e, dependendo do paciente e da situação, indicamos a sedação”, conta ela, ressaltando que os calmantes só devem ser utilizados sob recomendação médica.
O ideal, segundo Virgínia, é fazer um processo de dessensibilização desde que o animal é filhote. “Essa é uma medida mais ligada à área comportamental e de adestramento, mas vale a pena, por exemplo, em dias de festa, pegar o animal no colo e mostrar que ele está protegido”, conclui.
Ceia de embrulhar o estômago
Os fogos e bombas não são os únicos vilões para cães e gatos. As ceias de final de ano compartilhadas com os pets também podem levá-los à emergência. Maria Virgínia alerta para o perigo de ossos, que podem causar obstrução do esôfago e intestino dos animais, e alimentos condimentados, doces ou carnes muito temperadas que podem causar vômito, diarreia e desconforto abdominal. “O correto é ter bom senso e deixá-los longe de toda essa comida”, adverte a veterinária.
“Em alguns casos, recomendamos o uso de calmantes naturais e, dependendo do paciente e da situação, indicamos a sedação”, diz a veterinária Maria Virgínia Saito.