Paulo Malerba: ”Casos de Covid-19 crescem na região, mas prefeituras decidem por reabertura do comércio. Em Jundiaí, óbitos cresceram 400% em um mês”

Paulo Malerba: ”Casos de Covid-19 crescem na região, mas prefeituras decidem por reabertura do comércio. Em Jundiaí, óbitos cresceram 400% em um mês”
09/06/2020 Sumara Mesquita

Casos de Covid-19 crescem na região, mas prefeituras decidem pela reabertura do comércio. Em Jundiaí, óbitos cresceram 400% em um mês.

por Paulo Malerba – Presidente do Sindicato dos Bancários de Jundiaí e região

 

Na área de abrangência do Sindicato dos Bancários de Jundiaí e região, que é composta por nove cidades: Jundiaí, Itupeva, Campo Limpo Paulista, Várzea Paulista, Jarinu, Franco da Rocha, Francisco Morato, Caieiras e Cajamar, os casos de Covid-19 continuam em crescimento nas últimas semanas. Apesar da preocupante escalada de novos casos e mortes, a maioria das prefeituras adotou a retomada, com restrição, das atividades econômicas, em sintonia com o governo estadual.

No levantamento realizado no dia seis de junho, Jundiaí possuía 1539 casos confirmados e 88 óbitos; um mês antes eram 295 casos confirmados e 19 óbitos. Se, por um lado, a prefeitura aumentou os testes, por outro, é inegável que a doença avançou. Os óbitos cresceram em uma proporção de 400% em apenas um mês.

Nos outros municípios, a situação é, do mesmo modo, preocupante. Itupeva tinha 82 casos e sete óbitos; Campo Limpo Paulista, 92 casos e 17 óbitos; Várzea Paulista, 188 casos e 14 mortes; Jarinu 54 casos e oito óbitos; Franco da Rocha, 492 casos e 48 mortes; Francisco Morato 558 casos e 24 mortes; Caieiras, 363 casos e 41 mortes e, por fim, Cajamar possuía 349 casos e 24 óbitos. Até o dia seis de junho, portanto, 271 pessoas haviam perdido sua vida em razão da Covid-19 nas nove cidades. Em oitenta dias de pandemia, as fatalidades são maiores do que as vítimas de acidentes de carro durante o ano inteiro. Levando-se em conta que nossa região possui muitas mortes no trânsito.

Em linhas gerais, as prefeituras tentaram manter o funcionamento mínimo dos comércios e serviços durante os meses de março e abril, priorizando apenas setores essenciais. A exceção foi Jundiaí, que, no dia 22 de abril, permitiu a retomada de diversas atividades, consideradas de baixo impacto. Essa permissão seria suspensa pelo Tribunal de Justiça algumas semanas depois. Contudo, a pressão exercida por empresários, somada ao desrespeito de muitas pessoas, que poderiam ter evitado circular nas cidades, fez com que o mês de junho fosse de reabertura praticamente geral na região, no momento de maior crescimento das contaminações, mortes e ocupações de leitos em UTI.

De fato, muitas pessoas e pequenos negócios ficaram sem alternativas para realizar uma quarentena efetiva.

Aos informais e desempregados o benefício emergencial de R$ 600,00 foi insuficiente e demorado; enquanto para os micros e pequenos empresários a ajuda prometida pelo governo federal nunca chegou. O crédito continuou caro e inacessível, aprofundando a tragédia econômica e levando milhões de pessoas a se exporem para sobreviver. Na realidade, a omissão e negligência do governo federal foram decisivas para a expansão da doença no território nacional e aprofundamento do problema econômico.

O que seria uma grave crise tornou-se uma tragédia. Faltou e continua a inexistir uma coordenação nacional, organizada com diálogo e que liderasse os esforços de enfrentar a pandemia, tal qual foi feito em outros países mais bem sucedidos nas respostas à Covid-19. O Brasil teve mais tempo para se antecipar em sua preparação, contudo, isso foi desperdiçado devido ao negacionismo, vaidade e beligerância do presidente da república. Prova maior se deu com a substituição de dois ministros da saúde em meio ao espraiamento do coronavírus no Brasil. A reunião ministerial que veio à tona, mostrou como o tema não era objeto de preocupação da cúpula do governo federal. Pior: o governo passou a manipular os números sobre a pandemia, com divulgações incompletas e escondendo dados, algo que apenas encontra paralelo em ditaduras, regimes sem transparência.

O Sindicato continua atento e atuante, como esteve desde o início. Por esse motivo, a categoria bancária mantém empregos, salários e direitos em dia, realidade que, infelizmente, não é a mesma da maioria dos trabalhadores brasileiros. Os empregados e empregadas em grupo de risco seguem protegidos, todos têm acesso a equipamentos de proteção individual e medidas para evitar aglomerações nas agências foram adotadas com êxito. Todavia, os bancários e bancárias continuam a lidar diariamente com milhares de pessoas e a preocupação deve ser redobrada, porque o risco está cada vez maior.

A tendência é que aumente a pressão de setores da sociedade para reabertura normal das agências. Defenderemos que as restrições e as medidas protetivas continuem enquanto a pandemia não for debelada.

Nossos sentimentos se direcionam a todos e todas que sofrem com as consequências da pandemia, seja a perda de familiares e amigos, pessoas que padecem em hospitais e muitos que passam por dificuldades financeiras. A única forma de superar esse momento é com solidariedade e respeito à ciência.