Caso mobiliza não só lideranças indígenas, mas rompeu barreiras e repercutiu entre artistas, políticos e influenciadores digitais
Segue sem solução mais um capítulo da “guerra” entre garimpeiros contra o povo Yanomami, em Roraima. Depois que uma menina ianomâmi, de 12 anos, morreu após ser estuprada por garimpeiros que exploravam ilegalmente terras indígenas, todos os 24 indígenas da comunidade Aracaçá permanecem desaparecidos e suas casas foram encontradas queimadas.
Depois do comunicado do líder, a Polícia Federal (PF) chegou até a comunidade Aracaçá, mas não teria encontrado ‘indícios de crime’.
A aldeia é de difícil acesso – leva-se cerca de 1h15 de voo saindo de Boa Vista até Waikás, mais 30 minutos de helicóptero ou cinco horas de barco pelo rio Uraricoera.
De acordo com lideranças indígenas, garimpeiros teriam comprado o silêncio das vítimas com ouro. Isso porque, sem nenhuma base de proteção permanente da Funai, o garimpo se mantém como o principal indutor da violência na região.
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“É triste o que aconteceu com Madeleine McCann, mas por que diabos é menos triste o que aconteceu com os yanomami, por que diabos a comoção é menor?”
por Lelê Teles – Revista Fórum
Em Roraima, na região de Waikás, um grupo de 24 indígenas desapareceu na floresta, deixando pra trás a comunidade em chamas.
Pra onde foram, por que foram; sumiram ou foram sumidos?
Tudo aconteceu no último dia 25, logo após a comunidade ser invadida e atacada por garimpeiros.
Os sujeitos violentaram brutalmente uma menina de 12 anos, levando a pequena à morte.
Em seguida, os violadores sequestraram uma mulher, com o seu filho de três anos de idade; a criança, veja que brutalidade, foi jogada no rio, segundo relato de Júnior Hekurari Yanomami, liderança indígena que publicou um vídeo nas redes sociais denunciando o crime.
Pode ser que a comunidade tenha fugido em desespero para não ser exterminada.
São muitos, e cada vez maiores, os relatos de ataques brutais contra indígenas.
O terror, o pavor, o pânico e o medo são armas psicológicas utilizadas pelo macho branco desde que este câncer da terra aportou por estas paragens.
Há mais de 500 anos temos visto essa cena se repetir, ininterruptamente, e se alastrar como uma metástase: de forma brutal e covarde, homens fortemente armados, com armas de fogo, matam os povos originários sem piedade, ou obrigam indígenas a se esconderem nas regiões mais profundas da floresta para não serem assassinados.
Os exploradores gananciosos não têm escrúpulos: mandam e desmandam, matam e desmatam.
As terras, e isso parece um imperativo, devem estar apenas nas mãos do macho branco.
Por isso, os quilombos estão sempre sob vigilância, por isso os quilombolas lutam, por séculos, para terem a posse de um pequeno pedaço de chão.
É por isso que morrem tantas lideranças comunitárias, por esse motivo matam os que defendem a floresta, é por essa razão que as mulheres quebradeiras de coco babaçu vivem sob a ameaça constante de fazendeiros e grileiros.
É por essas e outras que os brancos gananciosos odeiam tanto os indígenas: “eles têm terras demais e são preguiçosos”, dizem os preguiçosos que parasitam crianças, animais e máquinas para trabalharem pra eles.
Mesmo as terras demarcadas estão sob a mira dos assassinos.
E agora eles têm um governo que os apoia, têm parlamentares que incentivam a brutalidade, têm instituições que fazem vista grossa às agressões que os povos da floresta, e a própria floresta, vêm sofrendo cotidianamente.
O macho branco, quando invade uma terra, antes de colocar uma cerca, ele destrói tudo o que encontra: toca fogo nas matas, polui os rios, mata tudo o que nada, voa, rasteja, fornece sombra e garante a vida.
A morte do “outro”, o assassínio, é a cachaça do macho branco.
Em seguida eles vão a uma igreja, fazem um teatro místico, depositam umas moedas na sacola de espórtulas e dormem com os bolsos cheios e a consciência tranquila.
Estupraram uma menina de 12 anos, jogaram uma criança de 3 anos dentro de um rio…
Dói, cara, isso dói pra caralho!
Isso dilacera a alma de quem tem alma; dilacera o coração de quem tem coração!
Lembro-me da pequena Madeleine McCann, uma criança de 4 anos, branca e britânica, que desapareceu em Portugal no ano de 2007.
O mundo ficou em pânico: será que estupraram a pequena, será que está viva, será que passa frio e fome, será…
O planeta Terra se mobilizou para procurar a criança, os principais meios de comunicação do mundo fizeram desta a sua notícia principal.
Ilze Scamparini, do alto de um telhado, chorava a perda da infante.
É triste o que aconteceu com Madeleine, mas por que diabos é menos triste o que aconteceu com os yanomami, por que diabos a comoção é menor?
Cadê os yanomami?
Desapareceram ou foram desaparecidos; por quê?
É preciso gritar com todas as forças e gritar sempre: vidas indígenas importam, porra!
Palavra da salvação.
fonte: rede de notícias